Domingo, igrejas hoje em dia dificilmente celebram casamentos. Aliás, não me entra na cabeça os homens cobrarem pela benção de Deus, mas enfim... Isso é assunto para outro momento.
Mas foi em uma calçada que vi a cena que traz o título do texto. Na Paróquia Nossa Senhora das Graças, do ladinho do terminal Jabaquara, vi um casal que infelizmente não possuem uma casa de alvenaria. Existem outros tipos de casa e é sobre isso que falarei aqui. Sendo eles, como todos somos, reféns e vítimas do sistema que nos impõem as piores coisas existentes, que desumaniza, escraviza (mentalmente ou não), e acima de tudo destrói relações.
Perdoe-me pelo ódio, não é esse o tema em questão, muito pelo contrário. Pois bem, não nos cabe julgar o que os levaram para a situação em que se encontravam (como pessoas em situação de rua), o que importa é o que faziam:
Trocavam carícias e diziam palavras das quais não conseguia entender, mas Alexandre Dumas certa vez disse: "os olhos são as lunetas do coração", e pelo o que vi, ali o amor habitava. Não havia neles sinais de abuso de drogas lícitas ou não, pude perceber que eram casados e vi que o "na alegria e na tristeza" e o "na riqueza e pobreza" fora realmente sincero, e não mera decoreba dita sem sentimentos.
Meus olhos marejaram, o amor é algo tocante aos sensíveis.
Estava indo celebrar o surrealismo e pude ver o quanto ele é notório para quem consegue ver além de suas telas, Macunaíma teria um surto com o que SP se tornou, e teria ainda mais "preguiça" de ver o quanto não evoluímos. Na biblioteca que leva o nome de Mario de Andrade senti-me em casa, poesia e prosa tomavam conta de mim. Havia ao redor da biblioteca, como um abraço, editoras independentes, sendo elas de todos os povos, sejam latinos, pretos, asiáticos e brasileiros. Todos felizes em mostrar as suas realidades por meio das linhas vívidas.
Lá encontrei uma escritora periférica, da cidade de Milagres (CE), seu nome era Maria, e que me mostrou o poder que a poesia pode causar, como reencontros e salvar vidas. O amor dela se foi, e como o dizem o adinkra do amor, que tem o nome de Odo nyera ne fie kwan não perdeu o caminho de casa e voltou, e como sankofa (um dos adinkras) reverenciou o passados, aprendeu com ele, e seguem juntos construindo o futuro. Além dessa, ouvir suas histórias e suas linhas, o choro que morava, no peito desde o casal que fez o real voto, transbordou. Pedi a ela um abraço, comprei um de seus livros, de poesia, e ela disse para eu voltar a escrever. Na dedicatória, ela disse que eu me fortaleça, e assim estou fazendo.
Muitas vezes nos sentimos incapazes por tanto ouvir as coisas que os outros falam e não escutamos o coração.
Na volta para casa, o trólebus estava cheio, e não consegui ver o casal que na calçada em frente à igreja estava.
Faço também o real voto ao amor e também para nunca mais para de escrever.