Alguns momentos da minha
vida me vi só, não falo do convívio de pessoas, mas por não ter vida alguma por
perto. Sei que parece estranho a maneira que falo, mas estava cercado de
pessoas em que não conseguia encontrar vida nelas, por mais que elas tivessem.
Chamo esses períodos de
deserto, pois precisava passar por ele sozinho, não haveria ajuda de ninguém,
amigo nenhum por exemplo. O mais difícil foi reconhecer que estava nessa
situação, muitas vezes tive que cair feio, ou na tempestade de areia viesse e
me fizesse enxergar quão mal eu estava.
Depois de me reconhecer no
deserto, comecei a ver os dias passarem devagar, nada adiantava, ficava
desapontado em andar e nada além de nada eu ver. Por vezes aquele monte de
areia ficava bonito, o sol não era tão ruim, eu estava cansado e acostumei-me
com aquela situação. E o que dizer das miragens, tão lindas, e depois... Desespero.
O desespero parece não ter
fim, o corpo apenas anda e morre todos os dias, assim como minha esperança. Até
que a vida me ofertava doses de forças para seguir. Um pássaro, outras vezes
vinha uma brisa leve que acalentava e animava-me e seguia meu caminho.
Perguntei-me se este era o
caminho certo, chorei por não obter respostas e os montes de areia iam
aumentando e ia ficando maiores pelo meu cansaço e a sensação de que nada fazia
para melhorar o mundo que me cercava, amigos e parentes falavam, aconselhavam,
mas não era o que precisava.
E de repente, no extremo do
dia, no auge do calor e do meu cansaço, vi o oceano, pensei até que fosse mais
uma miragem, mais um delírio. Corri, mesmo com o corpo extremamente cansado. E nos
passos finais cai de joelhos, fiz uma prece e pedi forças para chegar... o
corpo tremia e a respiração ofegante e o coração muito acelerado.
E alcancei a água, a
sensação libertadora foi indescritível, recebi minhas respostas ali. Chegava ao
fim à caminhada, o sal de meus olhos misturava-se com o do oceano, éramos um
agora, eu era maior que deserto, era infinito. O fim do deserto se mostrou
quando me tornei mar, me tornei infinito.
Depois de vencer esse,
vieram outros desertos, maiores e mais cruéis, mas a sensação de ser infinito
me levou e me leva para ir além do que posso imaginar.
Sim, os desertos todos têm
fim, mas nascemos para sermos infinitos como o oceano.
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