Sim, amado Gregor, vejo-me na mesma proporção sua no que diz
respeito ao esquecimento daqueles que não deveriam esquecer. Sinto-me estranho,
parece que não estou em mim nesses dias. O que fazer? Não sei, o ponto on-line que bato em meu
serviço atormenta-me no dia de folga, e as dores nas costas me perturbam muito
nesses últimos dias.
E o nada? Talvez seja eu, na imensa nulidade de pensar que
posso ser infinito.
Querido Gregor, e as linhas? São vãs ou sãs? Quem sabe um dia
ecoe em alguém, não sou fingidor, como o mestre era, sou vividor, tentei fingir
e não deu certo. Alma e matéria precisam sentir. Gregor, de tantas janelas
tento ver o sol no meio do céu azul, contemplo-o durante o caminho rotineiro do
coletivo que vou ao trabalho. Pensei: “nosso mundo é lindo” embora eu pouco
conhecera dele, imediatamente cheguei na conclusão de que não é preciso
conhecer muito o mundo mas sim, viver o que te cerca.
Quis ir no azul do céu e andar por ele, como os peixes fazem
no mar, certa vez ouvi que as estrelas descem do céu para irem para o mar e
quis ser uma, mas no lugar do céu, olhar de cima o mundo todo, conhecer o Japão
sem sair do lugar, trocar de turno com o sol, ver as incansáveis nuvens os
satélites dos humanos e das vidas inteligentes, meteoros, buracos negros... o
infinito.
Pensara que teria que ser infinito para ver tudo isso com a
intensidade e a inteiridade que tais coisas necessitam, mas as estrelas morrem
de tempos em tempos. Ser mortal nos dias de hoje é difícil, não fazemos o que
queremos, reduziram nossa vida em quadrados de telas, janelas que não se abrem
por inteiro.
E assim vou vivendo, meu caro amigo. Entre a sábia esperança,
pois esta sabe quando aparecer e o pessimismo diário. Certa vez esqueci meu relógio e tive que me nortear pelo sol e a lua, senti meu braço mais leve, imaginei a angústia dos ponteiros que apontam para todo lado e não saem do lugar, lembrei de mim. Como o tempo é grande para caber no que convencionalizaram.
E o tempo acabou no trabalho, e eu, ponteiro, voltei para casa, o relógio marcava 22:30.